Estimados leitores, muito prazer! O meu nome é Klebiano Barbosa de Souza e sou tradutor nos pares linguísticos inglês>português e francês>português. A partir de agora convido-lhes a participar desta jornada que está prestes a ser iniciada. Sejam bem-vindo(a)s! Como muitos de vocês ainda não me conhecem – o site acaba de entrar no ar –, aproveito a oportunidade para apresentar-me e partilhar algumas considerações breves e muito pontuais sobre a nossa profissão neste texto inaugural. Expor o ponto de vista sobre alguns aspectos de nossa profissão pode ser uma maneira de apresentação, não é mesmo? Aliás, sempre que possível, procurarei explorar este espaço no sentido de promover o meu trabalho e o diálogo entre os meus pares. Falarei hoje sobre a relação do tradutor e seus pares.
Comecemos, então, a esboçar as nossas ideias. O
primeiro impulso que vem à mente ao pensar nesta publicação foi, obviamente,
explorar o meu ponto de vista e as minhas considerações sobre a relação do
tradutor e seus pares, ou seja, entre tradutores e tradutoras ou mesmo entre
tradutores e clientes. Somos trabalhadores, cujo ofício tem como matéria-prima
a palavra. Mas, além disso, como profissionais, ou se preferirem freelancers,
relacionamo-nos de maneiras variadas uns com os outros em nossas interações cotidianas,
e, dada a abrangência dos meios digitais, este relacionamento acontece em
grande medida pelas mais variadas plataformas. É o que está acontecendo neste
exato momento! Mas, antes de expor estas considerações, recorrerei a uma
pergunta que acaba de emergir em meu pensamento e vou introduzi-la neste
momento a fim de ajudar a elucidar o que tenho em mente, a saber, o que é
ser um tradutor?
Obviamente, a minha ideia, ao apresentar a pergunta,
seria não delinear uma resposta conclusiva ao longo do texto, pois estou, assim
como muitos de vocês, trilhando os passos de minha trajetória. Parafraseando
Gilles Deleuze e Félix Guattari:
Talvez a questão o que é ser um tradutor?
só possa ser apreciada tardiamente, no momento em que seremos tomados pela
velhice e pela hora de falar concretamente.
Apresento-lhes, assim, a minha motivação com este
texto: a oferta de uma provocação muito sutil. Em algum momento de sua
trajetória profissional você já perguntou a si próprio(a) o que é ser
um(a) tradutor(a)?
De fato, a pergunta é bastante ampla e uma possível
resposta seria tão variada quanto a quantidade de tradutores existentes no
mundo. Mas, estreitando o nosso foco, pensemos em nosso contexto. Muitos de nós
nascemos no Brasil e herdamos como língua materna o português, cuja introdução
em nossa terra foi feita pelos portugueses no contexto da exploração do Novo
Mundo, como já é sabido. Com o passar do tempo, o idioma ganhou os seus
próprios contornos, caracterizando-se no modo como o conhecemos e falamos no Brasil.
Por outro lado, tenhamos em vista que, além do português propriamente dito, a
nossa terra já acolhia outras línguas cultivadas pelos povos originários,
algumas das quais sendo preservadas nos dias de hoje, ainda que com muita
dificuldade, mas muitas delas correndo sério risco de extinção. Em suma, do
ponto de vista da herança cultural lusitana, partilhamos em comum a língua
portuguesa.
Assim sendo, na vida cotidiana, os tradutores e
tradutoras têm como idioma de trabalho o português e mais uma língua, caso
sejam bilíngues. No meu caso, sou tradutor nos pares linguísticos
inglês>português e francês>português. Mas, até aí, tudo isso parece ser
familiar, pois passamos boa parte de nossos dias traduzindo, escrevendo,
pesquisando e – por que não? – estudando, entre outras coisas. Ou seja, apesar
dos percursos distintos uns dos outros – uns são da área de exatas; outros,
como no meu caso, são da área de humanas, com amplo interesse por áreas
variadas do conhecimento –, o meu itinerário existencial conduziu-me, assim
como vocês, ao ofício da tradução.
Durante as nossas práticas tradutórias, temos a
felicidade de conviver com as palavras. Às vezes, quando estamos traduzindo,
tenho a impressão de que este convívio é mais tranquilo – tal como quando
certas palavras nos são familiares (aqui há certa facilidade para determinar o
sentido de cada uma delas e, então, encontrar a solução tradutória mais
apropriada) –; em outros momentos, o convívio parece ser um pouco mais intenso,
diria até conflituoso – tal como quando vivenciamos o processo oposto, ou seja,
quando há a necessidade de direcionarmos uma energia considerável em pesquisas
a fim de elucidar o sentido de um termo.
Consequentemente, a pesquisa terminológica tem uma
relevância considerável durante o processo de tradução. Na minha opinião, o
trabalho de pesquisa é uma parte muito agradável de se fazer a partir do
momento em que ela anda de mãos dadas com a curiosidade. No entanto, quando há
certa dificuldade para determinar a tradução do termo que estamos procurando, a
busca torna-se um pouco angustiante. Em momentos como este, e dependendo do
andamento do trabalho – os prazos, definitivamente, precisam ser seguidos à risca
–, tenho a impressão de que traduzir assemelha-se à vivência de uma
aventura: primeiramente, trilhamos caminhos improváveis, explorando o
desconhecido, sem sabermos o que poderá acontecer; depois, quando levamos a
cabo a pesquisa, tornamo-nos capazes de fazer o bom uso das palavras – surge a
possibilidade de escolhermos as soluções mais apropriadas para o termo em
questão –; por fim, quando concluímos toda a jornada, somos premiados com a
compreensão do sentido a partir do uso do termo em um contexto determinado.
Acompanhe o desenvolvimento dessas ideias nas próximas publicações.
Durante o processo de pesquisa terminológica, tenho o
hábito de consultar fontes variadas, sejam elas online ou offline.
Como disse anteriormente, os recursos tecnológicos são os mais variados e há
inúmeras maneiras de obter uma informação. Em último caso, quando já esgotei
uma boa parte das possibilidades de pesquisa, solicito a ajuda de outros
colegas, sempre muito solícitos. Obviamente, mantendo todo o cuidado para não
expor nenhum conteúdo confidencial – não se esqueça que o gerente de projetos
deve ser a primeira pessoa a ser consultada. Perceba que, neste momento, o
cultivo de bons relacionamentos pode ser de suma importância; nunca saberemos
qual será a nossa próxima dificuldade, e, num momento como este, a ajuda de um
profissional mais experiente pode ser de grande valor. A prática da tradução
envolve certos riscos e é importante estarmos preparados para enfrentá-los,
afinal de contas, ao assumirmos certos riscos, poderemos propor certas soluções
que vão ao encontro dos anseios e necessidades de nossos clientes. Por
outro lado, os dicionários e a gramática ficam aqui na mesa. Sempre tenho em
mente poder acomodar novos exemplares em minha modesta biblioteca, e, apesar de
possuir muita coisa guardada em meu laptop, o prazer de ter um
livro em mãos é indescritível. Certamente, uma das experiências mais agradáveis
é o encontro do leitor com o seu livro.
Essas são, em linhas gerais, apenas algumas das
habilidades básicas permeando o ofício da tradução. Contudo, não se trata
apenas de exercitar certas habilidades para ser um tradutor. A relação do
tradutor e seus pares também deve levar em conta o cultivo de bons contatos. Os
bons relacionamentos profissionais podem gerar parcerias muito frutíferas.
Imagine a seguinte situação. Um jovem tradutor está no início de sua carreira e
ainda não tem experiência profissional. O jovem profissional começa a esboçar
os primeiros passos fazendo os primeiros contatos – com possíveis clientes e
com outros profissionais. Em outras palavras, o jovem tradutor acaba de se
formar, é bastante talentoso, mas a quantidade de palavras traduzidas é baixa.
Diante dessas circunstâncias, o jovem profissional encontrará mais dificuldades
para conseguir trabalhos a partir do momento em que o seu CV não tem uma
quantidade expressiva de palavras traduzidas. Por outro lado, uma possível
parceria com um profissional mais experiente poderia ser muito útil, desde que
seja satisfatória para ambas as partes e bem estabelecida; por um lado, o jovem
professional acumularia palavras em seu CV, e, por outro, o profissional mais
experiente, em momentos de sufoco, poderia receber apoio pontual e ficar mais
tranquilo – os prazos, assim, poderão ser respeitados. Mas como isso poderia
ser possível? Uma das soluções prováveis seria a prática da indicação.
Contudo, a maior parte dos trabalhos de um tradutor
serão provenientes de seus clientes, sejam eles agências de tradução ou
clientes diretos. As agências de tradução estão no Brasil e no exterior. Em
minha experiência profissional, estou procurando explorar o mercado externo por
meio das agências de tradução internacionais. Procurei direcionar a minha
carreira nesse sentido, porém esse caminho não é o único, pois há o mercado
interno e clientes diretos. Até o momento, não tive experiências nem com clientes
diretos nem com agências de tradução brasileiras, no entanto, considero a
possibilidade de atendê-los na medida em que podem ser uma importante fonte de
receita para a carreira de um tradutor.
Considerando que as agências de tradução são uma
ótima fonte de receita, procuro manter um relacionamento norteado pelo
profissionalismo com os meus clientes. No dia a dia, procuro ser responsivo por
meio de uma comunicação clara e fluída. E, no momento de negociação de tarifas
com novos clientes, procuro precificar os meus serviços de uma maneira justa
para ambas as partes; por um lado, entendo que as agências de tradução exercem
muito trabalho para conquistar os seus clientes, e investem pesado nisso, ou seja,
elas mantêm toda a estrutura para ter êxito em suas missões, por outro lado,
muitos anos de minha vida foram dedicados aos estudos – e ainda procuro nortear
a minha vida por meio desse hábito, uma vez que cultivo o amor pela sabedoria –
e tive a possibilidade de vivenciar experiências profissionais em áreas
diversificadas ao longo de minha trajetória. Quando estou trabalhando, toda
essa bagagem fornece-me subsídios para que um trabalho de excelência possa ser
entregue ao meu cliente. A linguagem tornou-se uma dimensão filosófica de minha
vida. Assim, as agências de tradução têm o seu papel e a sua importância no
mercado e não menos importante é o papel dos tradutores, pois representamos uma
força de trabalho geradora de divisas econômicas e riquezas culturais ao
promovermos o estreitamento de laços comercias e culturais entre os povos por
meio da comunicação.
Neste sentido, e aqui expresso o ponto principal de
minha argumentação, vêm à tona a maneira como compreendo ser o relacionamento
profícuo entre os profissionais da tradução. Entendo ser muito proveitoso para
a relação do tradutor e seus pares estabelecer a cooperação mútua com os
colegas em vez de uma relação baseada pura e simplesmente na competição. Somos
seres humanos e interdependentes. Penso que criar vínculos colaborativos possa
ser edificante a longo prazo. Portanto, baseado nestas considerações, procurarei
construir a minha própria trajetória. Continuarei trabalhando diariamente, ou
seja, além de traduzir tenho o objetivo de seguir conquistando novos clientes –
é muito comum quando fazemos contato com um novo cliente sermos avaliados por
meio de testes para que possamos começar a traduzir, no caso das agências de
tradução –, mas não deixarei de levar em conta a possibilidade de estabelecer
novas parcerias profissionais. Afinal de contas, o mercado da tradução é amplo
e todos podem conquistar o seu espaço.
Muito obrigado pela atenção e espero que você tenha
apreciado a leitura. Até a próxima publicação!
Sobre a pintura:
Paul Cézanne (1839-1906)
Les Joueurs de cartes
Entre 1890 e 1895
Óleo sobre tela
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