Eis mais uma publicação em nosso blog. Sejam muito
bem-vindo(a)s mais uma vez! É sempre um prazer poder compartilhar algumas reflexões/considerações/impressões
sobre o ofício tradutório. Entre um projeto e outro vivenciamos experiências
formidáveis. Ainda que a tecnologia esteja muito presente na vida do
profissional da palavra, creio que a metáfora debruçar-se sobre o texto ainda
seja muito ilustrativa para expressar a ideia de que, quando lidamos com um
texto em língua estrangeira, encontramos dificuldades e peculiaridades, ou
seja, trata-se de um desafio constante. Assim, creio que a atividade tradutória
possa ser uma fonte de muitas alegrias e prazer – o que não significa que a
atividade não seja trabalhosa; muito pelo contrário! Ela exige certo empenho,
muito estudo e dedicação. Na publicação de hoje, gostaria de partilhar com os
leitores e leitoras alguns pensamentos depois de concluir alguns projetos.
Como foi dito anteriormente em A relação do tradutor e seus pares, o
ofício tradutório encontra na palavra a sua matéria-prima. Ou seja, na palavra,
encontramos uma fonte praticamente inesgotável de possibilidades linguísticas.
Elas tornam-se palpáveis a partir do momento em que dois ou mais idiomas passam
a estabelecer entre si uma rica relação de convivialidade de acordo com o
itinerário existencial do profissional da palavra. Uma palavra pode suscitar
uma miríade interpretativa considerável e pode ainda ganhar nuances de
complexidade, ou mesmo de ambiguidade, se levarmos em conta a variedade de
textos com os quais se trabalha. Como podemos lidar com essas nuances? Uma
palavra poderia evocar os contornos de uma emoção? Ou de imagem? Talvez de uma
ideia? Ou quem sabe de um conceito? Ou ainda de uma ação? Certos idiomas
modernos partilhados e falados nas mais diversas comunidades têm origens
comuns, e ainda que eles tenham as suas particularidades, características e
regras próprias, de um modo muito genérico, pode-se dizer que alguns deles
apresentam algumas familiaridades entre si, se considerarmos as influências
recíprocas durante o processo de evolução linguística e formação das palavras.
Por exemplo, a palavra razão, em português, tem certa semelhança
com a palavra inglesa reason, que, por sua vez, assemelha-se com a
palavra francesa raison. O fato é que há inúmeros idiomas no mundo
inteiro.
Já em Alguém disse que a tradução é…, considerei
que a tradução não possui um valor a priori. Somos nós, seres
humanos, que atribuímos valor à tradução após descobrirmos o seu valor. No caso
de um livro, após uma leitura atenta e prazerosa, descobrimos a sua importância
e, então, nutridos por aquela experiência maravilhosa, somos capazes de atribuir
o valor àquela obra. Valor afetivo? Existencial? Filosófico? O fato é que o
tradutor promove o encontro entre leitor e autor, e tenho a impressão que o
ponto de encontro está no texto. Por outro lado, além do que comumente se
costuma denominar tradução literária, ou seja, o ramo mais voltado
para a tradução de livros, também há a tradução técnica. Por
exemplo, quando uma pessoa compra um computador, seja ele portátil ou de mesa,
dependendo do fabricante, muito provavelmente o equipamento será acompanhado
pelos manuais do fabricante indicando uma série de informações: desde os
detalhes mais técnicos concernentes ao equipamento – como características de
funcionamento, especificações elétricas, especificações de configuração e
detalhes dos componentes eletrônicos – até os detalhes mais básicos sobre o
sistema operacional. Ou seja, caso o fabricante disponibilize uma versão
traduzida do manual para o público ao qual o produto será oferecido, todas as instruções
serão extremamente úteis ao usuário do equipamento na medida em que aquelas
instruções fornecerem as informações e recomendações técnicas necessárias para
o bom uso. Assim, neste caso, podemos atribuir o valor de utilidade à tradução,
uma vez que o texto traduzido oferece todo um aparato informativo e instrutivo.
Tendo isso em vista, de alguns projetos para cá, e
passando por algumas experiências interessantes, sobretudo após entregar alguns
projetos de tradução criativa – jogos de videogame e
transcriação –, passei a ter ainda mais apreço pelo cuidado com a
inteligibilidade do texto traduzido na língua de chegada. E, por isto, gostaria
de convidá-lo(a)s para que me acompanhem.
É muito comum haver uma certa inclinação em acreditar
que as palavras possuem um significado intrínseco. Ou seja, existem as
palavras, elas são articuladas em sentenças, e graças ao sentido que cada uma
delas possui, é possível torná-las inteligíveis. Até aí tudo bem, as coisas
acontecem desta maneira. Mas será que é sensato pensar em um sentido intrínseco
para as palavras? Tomemos como exemplo a palavra “livro”. Se seguirmos essa
inclinação, e acharmos que a palavra possui um significado intrínseco, o simples
fato de falarmos, escutarmos, escrevermos ou lermos a palavra “livro”, torna
possível a inteligibilidade do sentido. Entretanto, ao que me parece, as coisas
podem não ser tão simples assim. Imaginemos a seguinte situação. Em uma manhã
ensolarada de domingo bate aquela vontade de sair de casa. O desejo pede um
passeio cultural. A pessoa dirige-se a uma livraria e, assim, o desejo é
satisfeito. Chegando lá, o leitor começa a circular pelo ambiente e vê inúmeros
“livros” organizados em prateleiras. Num primeiro momento, aquela visada mais
superficial induz a crer que, de fato, são livros. Muito bem. Como a
curiosidade é muito grande, e há muitos livros para serem explorados, o leitor
dirige-se até um deles motivado pela vontade de folhear algumas de suas páginas.
Sem que tenha se dado conta, o leitor dirige-se até o setor de idiomas e, ao
invés de pescar um livro da prateleira, ele pescou um dicionário. Neste
momento, ele pensa: – Ah! É um dicionário… Perceba que o fato
de o leitor ter encontrado um dicionário no meio de tantos livros frustrou as
suas expectativas. A partir do momento em que julgou precipitadamente tudo o
que estaria nas estantes seriam livros, o leitor acabou desconsiderando todas
as outras nuances significativas possíveis. A partir daquele momento, e mais
atento, o leitor passou a perceber a existência de classificações
correspondentes aos tipos de livro nas estantes. O leitor dirige-se ao setor de
Literatura, e lá chegando, ele percebe haver literatura estrangeira, literatura
nacional, literatura do Séc. XX e etc.; no setor de História, ele percebe haver
livros de história antiga, medieval, moderna e contemporânea; algo semelhante
acontece no setor de Filosofia (caso tenha a oportunidade de se aventurar neste
universo, o leitor perceberá que filósofos e filósofas construíram e constroem
o pensamento ao longo da história da filosofia). Há uma expressão muito
ilustrativa que diz não julguemos o livro pela capa.
Evitar o julgamento precipitado durante a atividade
tradutória parece-me uma prática adequada e recomendável, sobretudo no que se
refere ao tratamento das palavras. Diante de um texto em língua estrangeira,
dependendo da área com a qual o profissional da palavra trabalha, haverá
dificuldades e desafios ao longo do percurso, como disse há pouco. Em textos da
área da tecnologia de informação, área com a qual trabalho e tenho muita
afinidade, um dos maiores desafios é lidar com a quantidade de termos técnicos,
conceitos, nomes de produtos e tecnologias que necessitam de tratamento
linguístico. Esse mundo é relativamente novo, e há muita gente que ainda está
se habituando ao uso da tecnologia no dia a dia. De acordo com o meu ponto de
vista, um dos maiores desafios para o profissional que traduz nessa área seria
justamente lidar com toda essa carga terminológica. Por um lado, há os produtos
e as tecnologias – aplicativos, computação, computação em rede, em nuvem,
aprendizado de máquina, inteligência artificial, Internet, redes sociais,
protocolos de comunicação, etc. –; por outro, o mercado consumidor – empresas
e pessoas. Como lidar com toda essa terminologia e produzir um resultado
linguístico satisfatório? Sabemos que boa parte dessas palavras são originárias
do inglês. Como lidar com elas e traduzi-las no idioma de chegada?
Quando me refiro a evitar o julgamento precipitado no
âmbito da tradução, tenho justamente a ideia de promover mais inteligibilidade
ao significado das palavras. Nas Investigações Filosóficas, obra
de autoria de Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951), livro publicado postumamente e
comumente inserido na segunda fase de seu pensamento, o filósofo austríaco
apresenta, entre outras coisas, uma reflexão muito instigante sobre a
linguagem. Entre tantas reflexões elaboradas nas Investigações, Wittgenstein
fala sobre o uso das palavras. Para ele, há diferentes espécies de palavras.
Por exemplo, “cadeira”; trata-se de uma palavra cujo uso, e não o suposto
sentido intrínseco, determina a inteligibilidade do sentido. Quando digo:
“estou diante do computador, em minha escrivaninha, sentado nesta cadeira,
redigindo este texto”, uso a palavra “cadeira” neste contexto. Por outro lado,
quando digo: “a cadeira de massagem foi colocada na sala principal”, uso a
palavra “cadeira” de modo diferente. Ou, ainda, quando evoco uma cena do
filme O Pianista: “o pianista sentou-se na cadeira, dirigiu-se ao
teclado do piano, e interpretou um trecho da Balada n.º 1 em sol menor op. 23,
de Frédéric Chopin”.
No primeiro contexto, o uso associa o objeto cadeira
a um sentido relacionado a uma atividade laboral. Procurar as palavras,
organizá-las harmonicamente em um texto e tornar a mensagem inteligível é uma
das habilidades com as quais o profissional da palavra coloca em prática no dia
a dia. Mas não é só isso. Estamos levando as palavras ao alcance do público
leitor e, assim, praticamos também a sensibilidade linguística. Quem lê nunca
está só. O texto pode ser extremamente agradável e a sua leitura também pode
ser marcante. Aqui a cadeira, entre outras coisas, torna possível o trabalho do
profissional da palavra. Nela, passamos muitas horas do dia tentando encontrar
a solução mais adequada e ainda procuramos, com a ajuda de nossas habilidades,
entregar o que há de melhor em termos linguísticos para os nossos clientes. O
itinerário existencial do profissional da palavra possui as suas próprias
idiossincrasias. Já no segundo contexto, o uso associa o objeto cadeira a um
sentido ligado a um momento mediante o qual a pessoa que senta nela não
trabalha. Passa-se horas nela, mas não há atividade laboral. As coisas
acontecem no mundo e a pessoa fica nela fazendo absolutamente nada. A cadeira
de massagem está na sala principal e, assim, na sala principal, ela fica, pois
está voltada para quem está sentado nela. Aqui, a cadeira não foi feita para o
trabalho. E no terceiro contexto (…)
O modo pelo qual Wittgenstein trata as palavras é
extremamente fecundo. Há pouco identificamos uma espécie de palavra. “Cadeira”.
Esta espécie de palavra evoca um objeto situado no mundo exterior. Entretanto,
há outras espécies de palavras extremamente interessantes. Como disse
anteriormente, tive a oportunidade de concluir alguns trabalhos para a área de
videogame e transcriação recentemente. Para ambas as áreas, uma espécie de
palavra muito interessante, e extremamente presente durante o processo de tratamento
linguístico, seria “criatividade”. Tenho a impressão de que “criatividade”,
diferentemente de “cadeira”, é de uma espécie diferente de palavra. Se, por um
lado, “cadeira” evoca um objeto no mundo exterior, penso que “criatividade”,
por outro lado, evoca algo mais ligado aos fenômenos mentais.
Os jogos de videogame fazem parte da vida cotidiana
de muitos jogadores. Há muitos perfis diferentes. Desde aqueles que
acompanharam todo o desenvolvimento tecnológico dos consoles nos últimos anos,
passando por aqueles que jogam no computador, até jogadores que estão dando os
primeiros passos. Os gêneros de jogos também são extremamente diversificados e,
a cada dia, eles conquistam novos entusiastas. Se, por um lado, os
desenvolvedores de jogos eletrônicos utilizam muita lógica de programação e
cálculos matemáticos para viabilizar a existência de um jogo, por outro lado,
ainda há toda uma parte criativa não menos importante. O enredo, a história e
os personagens de um jogo são extremamente complexos e elaborados atualmente.
Há todo um processo criativo envolvido – a imaginação e a fantasia são
exploradas de tal maneira a produzir ludicidade. E pensar que há alguns anos o
bom e velho Atari era a fonte de muitas diversões para jogadores de gerações
passadas. De lá para cá muita coisa mudou, e o fato é que há muita tecnologia
de ponta nessa indústria.
Além de toda a parte de desenvolvimento e criação, um
jogo também possui palavras. Há diálogos entre personagens e há textos nos
elementos gráficos dos jogos. E é aqui que o profissional da palavra entra em
cena juntamente com as agências de tradução. Suponhamos que um jogo tenha sido
desenvolvido em língua inglesa ou francesa. Digamos que o estúdio que
desenvolveu o jogo pretende disponibilizá-lo para um determinado público. Por
exemplo, o público brasileiro. Neste momento, é muito comum o desenvolvedor do
jogo estabelecer contato com uma agência de tradução para solicitar o
tratamento linguístico de todo o jogo, caso não tenha um departamento
específico para cuidar disso. A agência de tradução, por sua vez, ao receber um
projeto de tradução ou pós-edição de tradução automática nos pares de idioma
inglês>português ou francês>português, entrará em contato com o linguista
oferecendo serviços nesses pares de idiomas – aliás, o exemplo é muito
ilustrativo, pois são os dois pares de idioma com os quais trabalho. O
profissional da palavra, por sua vez, ao receber o projeto da agência de
tradução, terá a oportunidade de lidar com desafios imprevisíveis, uma vez que
um jogo pode envolver outras áreas de especialização. Pense, por exemplo, em um
jogo de corrida. Há toda a terminologia automotiva envolvida. São as peças que
deixam o carro envenenado, toda a parte visual e estética, o interior. Além
disso, caso a corrida aconteça em um circuito de rua, há os nomes e os detalhes
desses lugares. Há ainda o registro linguístico. Se a corrida for um racha
entre os parças contra a polícia, pode haver histórias e diálogos entre os
personagens com muitas gírias e coloquialismos. Na minha opinião, a impressão
que tenho trabalhando nos primeiros projetos nessa área é que parece ser uma
das áreas mais desafiadoras. Para se ter uma ideia, dependendo do projeto, pode
até haver limitações em relação ao número de caracteres no texto traduzido, uma
vez que certos elementos gráficos possuem limitações de espaço na tela. Tenho
muito a aprender nessa área e muito o que explorar, certamente.
Outra área para a qual fiz trabalhos recentemente foi
transcriação. Trata-se de um estilo de tradução que envolve a criatividade. Em
linhas gerais, uma empresa pretende lançar um produto em um determinado
mercado. Para isto, há toda uma estratégia de localização envolvida no
processo, e como disse há pouco, a tradução é uma parte de todo o processo.
Pois bem, todo o tratamento linguístico relativo ao produto será feito por um
profissional da palavra juntamente com as agências de tradução. O processo de atribuição
de trabalho é análogo ao que descrevi acima. Recebi esses trabalhos de um
cliente para o qual já trabalho há algum tempo. Tenho uma ótima relação
profissional com esse cliente e poderia dizer que o fluxo de trabalho tem uma
certa constância. Costumo traduzir muitos trabalhos de tecnologia da informação
para essa agência e faz pouco tempo que comecei a receber trabalhos de outras
áreas – transcriação, comunicados de impressa da área médica e até um site de
Internet. Muito bem, os trabalhos de transcriação foram para o mesmo cliente
que contratou a agência de tradução. Todo o processo transcorreu muito bem e
fiquei contente com o resultado final entregue. Foi um trabalho extremamente
prazeroso e fiz com muito gosto.
Agora, se me permitem, vou partilhar algumas de
minhas impressões sobre as experiências envolvendo transcriação. Primeiramente,
recebi as ofertas de trabalho por e-mail em duas sextas-feiras consecutivas,
bem no fim de tarde. Ambas as ofertas para o par linguístico
inglês>português. Antes de atribuir o trabalho, a agência de tradução envia
um e-mail com uma oferta para verificar a disponibilidade do profissional da
palavra. Neste primeiro contato, o cliente, muito gentilmente, manda uma
amostra para uma avaliação prévia do texto a receber o tratamento linguístico.
Além disso, o cliente também indica a ferramenta de tradução a ser utilizada no
projeto, neste caso o Wordfast Pro – já tive a oportunidade de
trabalhar com algumas ferramentas de tradução e destaco as minhas experiências
positivas com Trados Studio, memoQ (o recurso para
criação de views é formidável), Smartcat, Wordbee, Memsource Cloud, Passolo, XTM, Lingotek e
próprio Wordfast (o recurso Transcheck Report chamou
a minha atenção).
No primeiro projeto recebido na primeira sexta-feira,
verifiquei o e-mail de oferta com o material e senti segurança para traduzir.
Conduzi o projeto sem maiores problemas no primeiro final de semana e a entrega
foi feita dias depois, dentro do prazo estipulado. Na sexta-feira seguinte,
acabei recebendo a segunda oferta – a agência de tradução recebeu o material de
seu mesmo cliente para ser traduzido igualmente no Wordfast Pro –
e aceitei também. No entanto, encontrei uma certa dificuldade para traduzir a cor
de um produto neste segundo projeto. Passei horas tentando encontrar uma
solução linguística, mas estava descontente com todas as soluções que havia
encontrado até então. Decido, por fim, pesquisar novamente todo o material de
referência enviado pelo cliente para garantir que não tinha deixado alguma
coisa de lado. E, de fato, havia deixado! Acabei encontrando um documento com
as referências para o produto em questão e mais: uma imagem promocional que o
ilustrava; havia um documento do Word com uma foto e outros detalhes;
no primeiro plano, uma imagem do produto e, no plano de fundo, imaginem, um
fenômeno da natureza com as cores exatas do produto. Então era isso! Uma cor
inspirada em um fenômeno da natureza. A partir dessa experiência ficou muito
mais fácil encontrar a solução e fiquei extremamente satisfeito com o
resultado. Poderia dizer que há muito o que aprender na área de transcriação
também, mas me sinto empolgado com as primeiras experiências vivenciadas ao
longo dos dois projetos. Cada projeto oferece desafios distintos, e a coragem
para percorrer as sinuosidades de cada um deles pode ser um elemento
considerável para o repertório de habilidades do profissional da palavra. Conte
comigo, caso necessite de meus serviços linguísticos.
Muito obrigado pela atenção e espero que você tenha
apreciado a leitura. Até a próxima publicação!
Sobre a pintura:
Gustave Caillebotte (1848-1894)
Jeune homme au piano
1876
Óleo sobre tela
Artizon Museum, Tóquio, Japão
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