Monday, October 7, 2024

Filosofando ao modo cético: sobre o tropo dos animais e investigação

 




Em um sábado pela manhã, uma torrente de pensamentos, dessa que nasce espontaneamente, passou a acompanhar os meus passos ao longo do trajeto para a aula de espanhol. Foi na rua, caminhando pela calçada, vendo o movimento da cidade. Aliás, especificamente no meu caso, esse tipo de fenômeno é muito comum, sobretudo após a pergunta “o que é filosofia?” ter surgido no horizonte de nosso itinerário existencial. Muito comum, não! Poderia dizer mesmo que a atividade é praticamente incessante. Vislumbrar a pergunta, tentar compreendê-la, depois passar a cultivá-la, e finalmente, tentar respondê-la, pode ser um empreendimento bastante sedutor, empolgante e desafiador, cujos dividendos podem ser contabilizados em termos de satisfação com as conquistas advindas dos avanços paulatinos. Por outro lado, lidar com esse mesmo empreendimento não deixa de ser cheio de desafios, dúvidas e questionamentos – certamente –, em especial quando permitimos a livre e genuína manifestação de pensamento. Assim, filosofar pode ser uma prática para uma vida inteira. Mas, perceba que a pergunta é um tanto quanto desconcertante, assim como já foi dito em “Uma história de um livreto com as ‘suas páginas já amareladas’”,  e neste sentido, a pergunta “o que é filosofia?” tem tudo a ver com um modo muito singular de pensamento, ou seja, estamos falando do pensamento filosófico.

Há alguns dias, estava relendo as Hipotiposes Pirrônicas, do médico e filósofo Sexto Empírico. Mais uma releitura, aliás, pois revisito este texto com certa frequência e de tempos em tempos. Há certos livros que fazem parte de nossas vidas de uma maneira muito especial. É impressionante, quando estamos dispostos a amadurecer e aprofundar os nossos conhecimentos em relação a uma certa linha de pensamento, como cada nova releitura é capaz de evidenciar novas nuances e camadas de sutilezas inéditas – que até então haviam sido ignoradas. Ignoradas, não por negligência ou por falta de atenção, mas simplesmente porque, quando revisitamos o texto, estamos acompanhados e nutridos pela maturação de leituras prévias, ou seja, estamos acompanhados pelo amadurecimento de nossas próprias reflexões. Mas não é só isso! No meu caso, tenho por hábito ler outros pensadores e pensadoras. Assim como foi dito em outras publicações, tenho interesse em continuar lendo e estudando outras filosofias, pois, segundo o meu ponto de vista, é muito importante manter a constância das leituras. A tradição ocidental produziu muita coisa e nunca é demais ampliar os nossos horizontes filosóficos. E, especificamente neste ano de 2024, dediquei boa parte de meu tempo livre para ler O mundo como vontade e como representação, de Arthur Schopenhauer – caso o leitor ou leitora esteja acompanhando o nosso blog, será possível notar em outras publicações que este filósofo já esteve presente por aqui quando tive a oportunidade de apreciar a sua posição em relação à tradução. A leitura desse livro estava na minha lista de leituras já fazia um bom tempo. Quando se trata de estudos filosóficos, estudar uma nova linha de pensamento e tentar compreender um novo pensador ou pensadora é um hábito muito benéfico para o nosso próprio amadurecimento filosófico. Aliás, o livro de Schopenhauer apresenta uma seção específica voltada para uma abordagem crítica em relação à filosofia kantiana, o que me deixou muito feliz como um leitor que carrega uma bagagem de leituras provenientes da “escola” cética.

Digressão à parte, voltemos ao texto de Sexto Empírico. Na primeira parte das Hipotiposes, Sexto Empírico apresenta os aspectos gerais do ceticismo. Observe que, neste caso, o médico e filósofo tem em mente o ceticismo pirrônico, cujo fundador foi Pirro de Élis. Como Pirro transmitia os seus ensinamentos pela oralidade, ele não deixou nada escrito, e assim, o trabalho de Sexto Empírico foi decisivo para que o pensamento de Pirro pudesse ser conhecido depois que foi legado à posteridade. Ou seja, o texto de Sexto Empírico resgata e expõe a sua visão sobre o ceticismo pirrônico. Assim, nesta primeira parte, por meio de um texto muito acessível, cuja exposição é muito simples, mas não menos articulada, encontramos, como foi dito acima, os aspectos filosóficos mais gerais. Diferentemente das escolas dogmáticas, o ceticismo não teria a pretensão de oferecer um sistema filosófico. Para os céticos da antiguidade, a pretensão em relação ao empreendimento filosófico era muito mais modesta, ou seja, não se tratava de apresentar ao mundo um relato hermeticamente sistematizado sobre a natureza das coisas, muito pelo contrário! Segundo eles, o que estava ao nosso alcance era um relato bem mais despretensioso, ou seja, algo como uma descrição em relação à aparência das coisas. Diferentemente dos sistemas dogmáticos, que articulavam as suas respectivas filosofias, os céticos viam em cada um desses sistemas concepções teóricas conflitantes entre si, e neste sentido, onde há uma multiplicidade dissonante de teorias sobre uma mesma questão, não parece ser nada sensato colocar um ponto final e dar como finalizada a construção do empreendimento filosófico. Entretanto, o fato de Sexto Empírico não oferecer um sistema filosófico não quer dizer que o seu pensamento seja incoerente ou pouco rigoroso. Muito pelo contrário! É possível notar na exposição do Sexto Empírico como o seu pensamento é articulado e meticuloso. Pirro era daquele tipo de filósofo que estava mais preocupado com o caráter prático de suas ideias, ou seja, ele privilegiou o aspecto mundano e pragmático desses ensinamentos. E foi isso que Sexto tentou resgatar.

Neste sentido, se não somos capazes de fazer um relato sobre a natureza das coisas, a própria noção de conhecimento filosófico torna-se problemática. Ou seja, não é que os céticos não se preocupavam ou não davam importância para a construção desse tipo de conhecimento. Não vamos confundir as coisas! A possibilidade de construção do conhecimento filosófico é um empreendimento complexo e muito problemático, ou seja, trata-se de um empreendimento cheio de desafios. É necessário ter muito rigor e levar as investigações filosóficas até as últimas consequências. E naquelas circunstâncias, o melhor mesmo a ser feito, para evitar a precipitação e a formulação de teorias que poderiam se tornar problemáticas ulteriormente, e mais problemáticas ainda se recebessem a adesão de maneira irrefletida por parte dos adeptos, era suspender o juízo. Mas, então, a atitude dos céticos tinha a ver com uma espécie de denúncia em face ao dogmatismo? E qual era o teor dessa denúncia? O dogmatismo poderia engendrar efeitos nefastos para o pensamento quando, supostamente, as suas respectivas filosofias considerassem a construção do empreendimento filosófico terminada, colocando assim um ponto final na possibilidade de novas investigações, questionamentos, o livre exercício das dúvidas, assim como o alvorecer de novos debates. Em outras palavras, quando, supostamente, as suas respectivas filosofias considerassem que o ponto derradeiro do itinerário reflexivo havia sido alcançado.

Por outro lado, além da suspensão do juízo, tendo em vista tudo o que a filosofia poderia pensar, debater e refletir ulteriormente, os céticos também consideravam igualmente importante a investigação. E isso a tal ponto que ela deveria acontecer incessantemente. Neste sentido, o pensamento cético caracteriza-se, entre outras coisas, pela manutenção da investigação quando se debruça diante de outros sistemas filosóficos. Assim, temos dois elementos importantes: de um lado, a suspensão do juízo que viabiliza o alvorecer da livre atividade de pensamento, sempre em movimento, livre de dogmas; e de outro, a investigação que nutre o pensamento com novos elementos filosóficos passíveis de apreciação crítica. Eis um panorama bastante simplificado que podemos encontrar na primeira parte das Hipotiposes. Gostaria de explorar um pouco mais esses dois aspectos.

Quando estava caminhando pela calçada naquela manhã de sábado, no percurso para a aula de espanhol, ouvi o canto de um passarinho. Não sou muito bom para identificar o canto dos pássaros e também faço confusão para saber quem é quem. São muitas as espécies e cada uma delas se expressa a seu modo, além de ter as suas próprias características. É fácil cometer um engano, por mais que os nossos sentidos sejam capazes de perceber os sons. É claro que certos cantos são inconfundíveis, como o do “bem-te-vi”, por exemplo. Entretanto, ainda que estejamos na cidade, no meio urbano, com poucas árvores e o predomínio de casas, prédios, concreto e asfalto, a manifestação dessas formas de vida convive conosco, ainda que de maneira restrita – infelizmente. Olhei para a árvore e logo percebi quando o passarinho voou em direção ao fio do poste de energia. Logo em seguida, ele alçaria voo para outro local, indo embora – seguindo o seu caminho. Por outro lado, para as pessoas com deficiências auditivas, as coisas podem ser diferentes. Quando presenciei a cena, o primeiro tropo de Enesidemo, ou seja, o tropo dos animais, veio ao pensamento.

Como disse anteriormente, os céticos suspendem o juízo em relação às formulações teóricas que tenham como pretensão revelar a natureza das coisas. Para fazer isso, eles recorrem a uma série de tropos, ou modos de suspensão, para lograrem êxito em suas estratégias. Esses tropos são empregados durante a argumentação para produzir a suspensão do juízo. E mais. O que está em jogo aqui seria justamente uma denúncia em relação aos efeitos nefastos que o dogmatismo poderia produzir para a atividade do pensamento. Na primeira parte das Hipotiposes, Sexto Empírico expõe os 10 tropos de Enesidemo – dos céticos mais antigos – e os 5 tropos de Agripa, além dos outros 2 tropos – dos céticos mais recentes –, com o propósito de indicar como a pretensão dogmática em relação à construção do conhecimento filosófico é algo muito mais problemático do que se possa imaginar. Trata-se de uma longa exposição onde Sexto Empírico explicita por que temos boas razões para colocar sob suspeita as alegações dogmáticas. Por outro lado, Sexto Empírico é muito prudente com a sua exposição, uma vez que ele considera o assunto em aberto, não estando completamente exaurido, havendo ainda a possibilidade de existência de outros tropos diferentes – que poderiam ser ainda mais suspensivos.

Quando aquele passarinho voou, fiquei imaginando como poderia ser a vida de um passarinho na cidade. Fiquei pensando: se a vida na natureza já é tão difícil – e aqui me recordo de uma passagem do Mundo como vontade e como representação, quando Schopenhauer entende que há uma luta constante e incessante na natureza pela vida –, imagine como ela pode ser ainda mais difícil na cidade, onde há uma escassez de recursos, alimentos, árvores, água para beber, em suma, um ambiente artificialmente organizado para acomodar, em grande medida, a vida dos seres humanos! A civilização criada para os humanos parece não ter levado em conta que o nosso planeta não foi feito única e exclusivamente para a nossa espécie! Ou seja, nós, como mais uma entre todas as outras espécies, habitamos este planeta, assim como outros seres vivos e modos de vida – com as suas diferentes características e constituições específicas.

Assim, parece-me que os seres humanos não têm nenhum privilégio em detrimento das outras espécies. Tenho a impressão de que não somos mais inteligentes ou mais naturalmente bem-dotados em relação às outras espécies ou modos de vida. Aliás, o que é inteligência? O que muitos animais podem fazer, nós não podemos fazer sem recorrer a algum meio tecnológico. Um passarinho pode voar. Um cachorro pode ouvir certas faixas de frequência sonora que os humanos não podem escutar, sem contar o faro muito mais apurado. Os gatos podem subir em muros, em árvores e até mesmo em telhados, entre outras coisas inimagináveis. Uma formiga pode carregar até N vezes o número de seu próprio peso. Em muitas circunstâncias, os instintos são muito mais precisos, rápidos e confiáveis do que a própria razão! Tenho a impressão de que temos certas características e que somos diferentes sob certos aspectos em relação às outras espécies e modos de vida. Mas isso não deveria ser uma razão plausível para alegarmos que temos mais direitos em relação às outras espécies e modos de vida. Como será que um passarinho se sente morando na cidade? A resposta para a pergunta parece óbvia, ou a própria pergunta parece meio tola, mas em algum momento será que estamos pensando sobre essas coisas quando estamos andando apressadamente pelas ruas da cidade? Aliás, será que chegamos mesmo a perceber o que há na cidade, além do asfalto e do concreto? O planeta não foi feito para nós, seres humanos, nós apenas o habitamos, assim como as outras espécies de seres vivos e modos de vida.

Perceba como as leituras de um texto filosófico podem ter uma grande influência em relação à nossa visão de mundo, e neste caso, em nossa relação com os outros animais. Se fôssemos seres unicamente egoístas, tenho a impressão de que as outras espécies, ou até mesmo a natureza como um todo, deveria existir para servir única e exclusivamente aos nossos próprios interesses. Entretanto, se investigarmos um pouco mais a questão, poderemos colocar um outro elemento nesta balança para que essa inclinação seja direcionada para o equilíbrio. Em muitas de nossas relações cotidianas, ou até mesmo em nossas relações com os outros animais, agimos tendo em vista o bem-estar alheio. Por exemplo, quando estamos com um carrinho de compras na fila do supermercado e uma pessoa chega, com alguns poucos itens, e pergunta se não seria possível ceder o nosso lugar para que ela possa passar na frente. Obviamente, não seremos egoístas. Ou ainda, quando um gatinho de rua pula o muro de nossa casa e passa a conviver conosco em nosso quintal. Obviamente, acolheremos aquele animalzinho, alimentá-lo-emos, daremos água e carinho. Nesses dois exemplos, demonstramos como o altruísmo é capaz de promover ações desinteressadas. No primeiro caso, ele foi capaz de produzir um ato de gentileza. No segundo caso, ele foi capaz de produzir um ato de acolhida.

Ainda na primeira parte das Hipotiposes, Sexto Empírico fala sobre investigação, uma das características do ceticismo. Em outras publicações de nosso blog, já tive a oportunidade de falar sobre esse conceito, e naquela ocasião, desenvolvi uma reflexão aplicada ao âmbito da tradução. Entretanto, o conceito de investigação tem um sentido amplo e sua interpretação pode ser multifacetada. No texto de Sexto Empírico, a investigação está direcionada para a apreensão das outras filosofias como objeto de reflexão. E neste caso, tenho a impressão de que a investigação anda de mãos dadas com a curiosidade. Para que seja possível haver a investigação, é necessário haver uma curiosidade quase que insaciável em relação a tudo. Assim, investigar, ou seja, seguir os traços, assemelha-se a uma nutrição. Alimentamos o pensamento com os elementos filosóficos das outras escolas, ou seja, lançamos um olhar apreensivo no sentido de termos à nossa disposição as outras filosofias como objeto de reflexão: levantar problemas, analisar a exposição de uma ideia, comparar o pensamento filosófico de seus respectivos autores, perceber a linha de desenvolvimento de uma doutrina e certas afinidades entre certas escolas de pensamento, formular objeções, etc. Tudo isso é fonte de muito prazer, uma vez que nossas habilidades intelectuais são colocadas em movimento. Enfim, muitas são as perguntas filosoficamente formuladas durante o estudo de uma filosofia. E sempre mantemos em nosso horizonte a suspensão do juízo.

Observe que, quando ouvi o canto daquele passarinho, na mesma hora, nasceu a curiosidade em relação a tudo que dizia respeito àquele animalzinho. A partir da percepção daquele canto, perguntei: “Como é o nome desse passarinho?”; “Será que ele é muito grande?”; “Quais são as suas cores?”; “Onde ele está?”. Perceba como a leitura de um texto filosófico pode influenciar a maneira pela qual somos capazes de colocar um ponto de interrogação diante das coisas que se nos apresentam. Aqui, estou me referindo a apenas um fenômeno específico. Como os céticos se propõem a mergulhar em uma investigação constante e ininterrupta, poderia dizer que, tendo em vista a grande variedade de fenômenos que se apresenta ao alcance dos sentidos, a filosofia, as próprias pessoas, os outros seres vivos e modos de vida, ou seja, o mundo como um todo,  tornam-se um imenso ponto de interrogação. A sensação de estranheza, diante das coisas, ou ainda, diante do frescor da novidade, é uma experiência constante. Eis o ponto de partida para a possibilidade de novas descobertas. E sempre estaremos munidos com todo o nosso aparato crítico para problematizar toda essa abordagem.

Assim, tudo o que foi dito neste texto não tem nenhuma pretensão de revelar a natureza dessas ideias. Apenas fiz um relato sobre a minha experiência pessoal, singular, particular e circunstancialmente determinada, depois que o contato com o texto de Sexto Empírico tornou-se um hábito em minha vida. Também fiz um relato sobre como essas ideias podem ter uma influência muito marcante em minha visão de mundo e, consequentemente, em minha relação com os outros animais, outros seres vivos e modos de vida. No entanto, todo esse relato é um relato feito por uma pessoa com uma certa idade, no ano de 2024, em plena primavera – estamos no hemisfério sul – e em circunstâncias muito específicas. Além disso, não tenho nenhuma pretensão de convencer as outras pessoas com o meu próprio ponto de vista, uma vez que cada pessoa tem o seu próprio ponto de vista e suas próprias apreciações em relação aos mais diversos aspectos sobre as coisas mais variadas. Tentar convencer o interlocutor também pode ser uma maneira dogmática de impor um ponto de vista. E essa postura parece não ter nenhuma afinidade com os propósitos da “escola” cética.

Por outro lado, talvez não seja sensato desconsiderar muitos dos aspectos filosóficos aqui esboçados. Por um lado, nas Hipotiposes Pirrônicas, Sexto Empírico apresenta aos seus leitores e leitoras um trabalho muito minucioso em relação ao tratamento do pensamento cético pirrônico em relação ao dogmatismo. Alguns comentadores especializados dizem que, entre os textos da antiguidade, aqueles de Sexto Empírico figuravam entre os textos contendo mais argumentos por página do que qualquer outro texto. Se compararmos os textos de Sexto Empírico com os de Platão, por exemplo, poderemos notar uma grande diferença, sob os mais variados aspectos: em Platão temos uma exposição dialógica de sua doutrina; em Sexto Empírico temos uma exposição muito mais argumentativa ao longo do tratamento das questões dogmáticas. Ou seja, o ceticismo pirrônico tal como foi legado para a história da filosofia por Sexto Empírico pode ser considerado como um dos trabalhos que teve o cuidado de articular uma infinidade de argumentos para: 1) promover a suspensão do juízo; e 2) denunciar os efeitos nefastos do dogmatismo. Por outro lado, Sexto Empírico sempre teve o cuidado de deixar bastante claro ao leitor ou leitora que o pirronismo apresenta certas diferenças em relação às outras escolas de filosofia. Por exemplo, havia quem perguntasse se o ceticismo poderia ser considerado uma escola. E Sexto Empírico dizia que uma resposta dependeria do entendimento da pessoa em relação ao termo “escola”: no sentido dogmático, não poderia ser considerado uma escola; entretanto, no sentido cético, faria sentido falar em “escola”.

Porém, independentemente de qualquer coisa, tenho a impressão de que o melhor a se fazer, diante de todas essas questões – muito fecundas, filosoficamente ricas e instigantes –, é suspender o juízo, pois talvez ainda me reste um longo caminho para amadurecer as minhas próprias ideias. Neste momento, um ponto de vista ou mesmo a interpretação do texto filosófico de Sexto Empírico pode parecer plausível e adequada. Entretanto, em outras circunstâncias, e já em idade mais madura, talvez uma nova consideração possa ganhar mais importância em minhas reflexões e outros elementos poderão ganhar novos contornos. Ainda há muito o que ser descoberto e debatido no âmbito da filosofia. A construção do empreendimento filosófico é algo de tal envergadura que, no estado atual de coisas, às vezes penso que somos apenas bebês curiosos que começaram a tatear as coisas. De um lado, temos a produção filosófica, com a articulação de suas teorias, e de outro, o ceticismo, com a articulação de seu aparato crítico. Ambos em rica e pacífica tensão de convivência.



Referências bibliográficas:

SEXTUS EMPIRICUS. Outlines of Scepticism. Edited by Julia Annas and Jonathan Barnes. Cambridge texts in the history of philosophy. New York: Cambridge University Press, 2000.

 

 

Sobre a pintura:

Henriette Ronner-Knip (1821-1909) 

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Óleo sobre painel 

Coleção privada 

Foto em domínio público


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